Balas zunindo

18 12 2011

          Livro bom é o livro que te pega de surpresa. Aquele que você não esperava ser apanhado pelo intenso desejo de ler tudo num dia só, que vale uma noite de insonia.

          Livro bom é aquele que faz você devorar página após página, aquele livro que não deixa você sossegado enquanto não chega à última página. Aquela história que sabe-se lá porque cargas d’água atrai a atenção do leitor do início ao fim. A construção da narrativa, dos personagens, o conjunto da obra é o suficiente para levar a ciência da teoria literária às favas.

          Esse, talvez, seja o problema: nem sempre o que seria considerado livro bom para a massa do público leitor é interessante ou do agrado da crítica literária, sempre muito ávida pelos desafios linguísticos de uma obra hermética, que quase sempre afastam o grande público do prazer da leitura ou das boas livrarias.

          Por sorte (e bota sorte nisso!), ainda temos os autores cuja preocupação é escrever para o público, seja ele quem for. Sem as preocupações de hermetismo (como citado no parágrafo acima), exibicionismo linguístico ou qualquer bossa que integre o(a) autor(a) em questão em algum rol dos grandes nomes da literatura universal

          Egos postos de lado, é o caso do livro Bala com Bala do escritor paulistano-santista Márcio Callegaro. Se sua intenção é ler para se divertir, esse é o livro certo.





Uma voz das Alterosas

21 12 2010

Só em Beagá, de Eduardo Ferrari

Eduardo Ferrari,  jornalista do Portal iG, há anos atrás, recebeu uma sugestão de um amigo pessoal e também jornalista Sílvio Ribas, natural de Curvelo, que hoje está em Brasília, atuando no Correio Brasiliense. Por que você não escreve num blog? Blog, naqueles tempos, era novidade, coisa de jovem, ninguém sabia ao certo se era uma bolha ou vingaria. Foi, então, que resolveu acatar o conselho de Ribas e também cantar a sua aldeia. Veio com um baita de um blog chamado Só em Beagá. Para os que não tiveram a honra de morar na capital mineira, é entrar em Belo Horizonte pela porta da frente. Nem preciso dizer que era parada obrigatória quando procurava por textos novos que não estivessem em formato de livro.

Mas o livro, essa entidade que resiste bravamente, mostrou sua costumeira intromissão e se fez presente para os textos que eram exclusivamente eletrônicos. A editora da empresa de comunicação Medialuna, em parceria com a Mondana Editorial, lançou em 2008 os melhores posts do blog reunidos. Só em Beagá – Histórias, Crônicas e Reportagens Sob o Olhar de uma Cidade guia seu leitor desde a crítica ao modo de ser belorizontino até as figuras mitológicas que a jovem cidade, em seus apenas 113 anos (salvo a memória não me abandone), foi capaz de criar, como a Loira do Bonfim e o Capeta do Vilarinho.

É bem mais fácil Eduardo Neri Ferrari parar de respirar do que deixar de ser jornalista. Casado também com uma jornalista, a editora-chefe da Rádio Band Minas FM, Ivana Moreira, tanto ele quanto ela já estiveram na vizinhança quando trabalharam na grande mídia paulistana. Depois da fase catarinense da carreira, Eduardo Ferrari retorna à casa, mas carregando consigo olhos que já não eram tão parecidos a de seus conterrâneos que em Belo Horizonte edificaram vida durante o hiato.

Essa certamente é a primeira percepção de qualquer desavisado leitor de Só em Beagá. Se você é um leitor ávido por enaltecimentos, é bom exercitar a paciência de entender que nem tudo são flores na vida. Apesar de sua paixão por Belo Horizonte, Eduardo Ferrari é superior ao lugar de sua paixão e tem o cuidado de não tratar seu leitor como détraqué. Amor pela terra onde nasceu não significa condescendência. Ferrari não recua ou silencia diante daquilo que ele considera como algo que deveria ser melhor ou até mesmo um defeito da cidade. Isso, por si só, já é uma qualidade rara, a coragem de enfrentar um patrulhamento quase sempre acéfalo, incapaz de entender a crítica como uma possibilidade de melhoria.

O forte de Só em Beagá é o passeio ao longo de suas 125 páginas de como o mundo afeta o comportamento dos habitantes de Belo Horizonte. Por causa de seus olhos quase estrangeiros, Eduardo Ferrari não apenas obtém o recorte das cenas e cenários belorizontinos, mas convida seu leitor a entender um pouco como esse processo se constrói. E de uma possível semelhança com a terra-natal ou local de habitação desse leitor. Quando as diferenças culturais entre Belo Horizonte e os demais lugares do mundo são ao mesmo tempo o aterrador fator de que o humano guarda mais semelhanças do que diferenças.

Só em Beagá é um documento que relata a vocação de Belo Horizonte. Sem plumas ou ufanismos. Do jeito que toda cidade verdadeiramente é: um lugar maravilhoso que tenta sobreviver ao elemento humano inserido dentro dela. Tirando a cultura de cada local, as características de cada localidade, o elemento humano nas cidades é feito doença auto-imune: repele o que o terreno lhe ofereceu de melhor, numa sanha desvairada de hegemonia cujo peso as próprias pernas não aguentam. Eduardo Ferrari vai desde o movimento de alma que influencia tanto Belo Horizonte até a mítica de seus personagens, de seus cartões-postais, do que é ser belorizontino dentro do pulso da cidade.

Uma outra característica dos textos de Eduardo Ferrari (que também pode ser vista no livro Interlocutores, tema de um outro post nesse humilíssimo blog, em breve): ele conversa com o leitor por escrito. Sem os maneirismos de uma suposta oralidade ou o risco de pertubar o leitor com desabafos no papel. Eduardo Ferrari abre sua garrafa de vinho, compartilha uma generosa taça com seu leitor e dá a dose certa de álcool que toda boa conversa deveria ter. Passa bem longe do coloqualismo e dribla eventuais períodos compostos ora com a utilização do advérbio sozinho, de precisão cirúrgica, ora na redução de subordinadas na tentativa de esconder a sempre cansativa repetição dos verbos (conjugados ou não). Quando o período composto é inevitável, busca não colocar o pronome relativo como sujeito da oração subordinada que quase sempre leva o leitor ao início do período inteiro após a leitura, uma vez que tal estratégia implica em ruídos semânticos que interferem no bom andamento dessa conversa.

Isso sem contar com a utilização de notas em cada texto do livro. Já que o papel não possui o recurso de links, comuns nos textos da internet, essa contextualização é importante e essencial.

A Belo Horizonte de Eduardo Ferrari é única, singular. Mais importante de tudo, real. É a Belo Horizonte das virtudes e dos defeitos, das imagens e do que há por detrás delas. Só em Beagá é uma conversa sobre a cultura que a capital mineira construiu, ainda que nem mesmo parte dos belorizontinos tenha se dado conta de que ela existe. Uma cultura eminentemente belorizontina.





Martin Amis

15 03 2010

Grande nome da literatura inglesa e britânica dos nossos dias, Martin Amis é grande referência para textos em língua inglesa. Egresso do suplemento literário do jornal londrino The Times, Martin Amis ataca esse ano de “The Pregnant Widow”. Aguardamos ansiosamente a tradução do título da obra, bem como de seu conteúdo, ainda que pessoalmente embarque na distinção do texto em idioma original. É mais um título para nossa agenda de 2010.